quinta-feira, 20 de março de 2014

RESULTADO DO CONCURSO IBESCE DE CRÔNICAS -PRÊMIO COELHO NETO


CONCURSO IBESCE DE CRÔNICAS
PRÊMIO COELHO NETO
RESULTADO

AUTOR
CRÔNICA
ANNA KAROLINA DE LIMA  (RN) - KAROL LIMA
O TERMINAL
CARLOS ROBERTO LIMA (MG) - ROBERTO LIMA 
O CEMITÉRIO DA INFÂNCIA
CLODOALDO TURCATO   (PE)

APONTAMENTOS SOBRE A MENINA QUE ROUBAVA LIVROS  
EGIDIO BRIZOLA (GO)
O PAINEL VERMELHO
GEORGETE REIS FERREIRA DA SILVA  (RJ)
REPELENTE PARA GATOS
GLAUBER COSTA FERNANDES  (BA)
O HOMEM VERDE
IRANILDA FERREIRA DE OLIVEIRA  (MG)
PROCURADO
JACKSON DA MATA (AM)
A MARCA DA INTOLERÂNCIA
JORGE DOS SANTOS CARVALHAES  (RJ)
A SEMIDEUSA NA CIDADE
JOSÉ EUGÊNIO BORGES DE ALMEIDA (AL)
CONSIDERAÇÕES AMARGAS
MÁYRA LUNA DA SILVA (SP)
O FIM DE UM SOPRO
MARIA DAS DORES ALMEIDA DE SOUZA (CE)
DORA ESTRELA
BANHO DE CHUVA
MARTA H. CAVALCANTE RAMOS (MA) MARTA CAVALCANTE (Primeira Colocada)
A PONTE
TADEU BRAGA DE OLIVEIRA  (RJ)
MARCAS NA PELE
VALMERE SANTANA (PE)  
A ARTE DE PESCAR

INFORMAÇÕES:
● A seleção contou com 73 inscritos, dos quais cinco tiveram suas inscrições indeferidas por não atenderem os requisitos contidos no edital.
As demais foram submetidas a apreciação da comissão julgadora que após criterioso exame atribuiu o prêmio em dinheiro (primeiro colocado) a escritora Marta Helena Cavalcante Ramos e houve por bem classificar para integrar a antologia as crônicas constantes do presente rol. Congratulações aos escolhidos e agradecimentos a todos os participantes.
A Coordenação.

segunda-feira, 10 de março de 2014

SÉRIE CRÔNICAS PRIMOROSAS - Nº 03


O HOMEM NU



Ao acordar, disse para a mulher:— Escuta, minha filha: hoje é dia de pagar a prestação da televisão, vem aí o sujeito com a conta, na certa. Mas acontece que ontem eu não trouxe dinheiro da cidade, estou a nenhum. — Explique isso ao homem — ponderou a mulher.— Não gosto dessas coisas. Dá um ar de vigarice, gosto de cumprir rigorosamente as minhas obrigações. Escuta: quando ele vier a gente fica quieto aqui dentro, não faz barulho, para ele pensar que não tem ninguém. Deixa ele bater até cansar — amanhã eu pago. Pouco depois, tendo despido o pijama, dirigiu-se ao banheiro para tomar um banho, mas a mulher já se trancara lá dentro. Enquanto esperava, resolveu fazer um café. Pôs a água a ferver e abriu a porta de serviço para apanhar o pão. Como estivesse completamente nu, olhou com cautela para um lado e para outro antes de arriscar-se a dar dois passos até o embrulhinho deixado pelo padeiro sobre o mármore do parapeito. Ainda era muito cedo, não poderia aparecer ninguém. Mal seus dedos, porém, tocavam o pão, a porta atrás de si fechou-se com estrondo, impulsionada pelo vento. Aterrorizado, precipitou-se até a campainha e, depois de tocá-la, ficou à espera, olhando ansiosamente ao redor. Ouviu lá dentro o ruído da água do chuveiro interromper-se de súbito, mas ninguém veio abrir. Na certa a mulher pensava que já era o sujeito da televisão. Bateu com o nó dos dedos:— Maria! Abre aí, Maria. Sou eu — chamou, em voz baixa. Quanto mais batia, mais silêncio fazia lá dentro. Enquanto isso, ouvia lá embaixo a porta do elevador fechar-se, viu o ponteiro subir lentamente os andares... Desta vez, era o homem da televisão! Não era. Refugiado no lanço da escada entre os andares, esperou que o elevador passasse, e voltou para a porta de seu apartamento, sempre a segurar nas mãos nervosas o embrulho de pão:— Maria, por favor! Sou eu! Desta vez não teve tempo de insistir: ouviu passos na escada, lentos, regulares, vindos lá de baixo... Tomado de pânico, olhou ao redor, fazendo uma pirueta, e assim despido, embrulho na mão, parecia executar um ballet grotesco e mal ensaiado. Os passos na escada se aproximavam, e ele sem onde se esconder. Correu para o elevador, apertou o botão. Foi o tempo de abrir a porta e entrar, e a empregada passava, vagarosa, encetando a subida de mais um lanço de escada. Ele respirou aliviado, enxugando o suor da testa com o embrulho do pão. Mas eis que a porta interna do elevador se fecha e ele começa a descer.— Ah, isso é que não! — fez o homem nu, sobressaltado. E agora? Alguém lá embaixo abriria a porta do elevador e daria com ele ali, em pêlo, podia mesmo ser algum vizinho conhecido... Percebeu, desorientado, que estava sendo levado cada vez para mais longe de seu apartamento, começava a viver um verdadeiro pesadelo de Kafka, instaurava-se naquele momento o mais autêntico e desvairado Regime do Terror!— Isso é que não — repetiu, furioso. Agarrou-se à porta do elevador e abriu-a com força entre os andares, obrigando-o a parar. Respirou fundo, fechando os olhos, para ter a momentânea ilusão de que sonhava. Depois experimentou apertar o botão do seu andar. Lá embaixo continuavam a chamar o elevador. Antes de mais nada: "Emergência: parar". Muito bem. E agora? Iria subir ou descer? Com cautela desligou a parada de emergência, largou a porta, enquanto insistia em fazer o elevador subir. O elevador subiu.— Maria! Abre esta porta! — gritava, desta vez esmurrando a porta, já sem nenhuma cautela. Ouviu que outra porta se abria atrás de si. Voltou-se, acuado, apoiando o traseiro no batente e tentando inutilmente cobrir-se com o embrulho de pão. Era a velha do apartamento vizinho:— Bom dia, minha senhora — disse ele, confuso. — Imagine que eu... A velha, estarrecida, atirou os braços para cima, soltou um grito:— Valha-me Deus! O padeiro está nu! E correu ao telefone para chamar a radiopatrulha:— Tem um homem pelado aqui na porta! Outros vizinhos, ouvindo a gritaria, vieram ver o que se passava:— É um tarado! — Olha, que horror! — Não olha não! Já pra dentro, minha filha! Maria, a esposa do infeliz, abriu finalmente a porta para ver o que era. Ele entrou como um foguete e vestiu-se precipitadamente, sem nem se lembrar do banho. Poucos minutos depois, restabelecida a calma lá fora, bateram na porta. — Deve ser a polícia — disse ele, ainda ofegante, indo abrir. Não era: era o cobrador da televisão.

domingo, 9 de março de 2014

CRÔNICAS - ENCERRAMENTO DAS INSCRIÇÕES


AFINAL PSICÓLOGO É MÉDICO DE LOUCOS?

PSICÓLOGO É MÉDICO DE LOUCOS


Quando decidi estudar psicologia, muitas pessoas me perguntavam: “o que é esse negócio de psicólogo? É médico de doido?”. A princípio, achei engraçada essa pergunta, contudo, depois de um tempo comecei a pensar sobre como as pessoas desconhecem a profissão de psicólogo.

Entendo que essa falta de conhecimento se deva principalmente ao fato de que poucos têm acesso a serviços de atendimento em psicologia. Poucos brasileiros têm condições de utilizar o serviço do psicólogo em rede privada. Quando se recorre aos serviços públicos, suas filas de espera dificultam bastante o acesso da população a esta categoria de profissionais.

Mas então… se psicólogo não é médico de doido, o que é?

Bem… o psicólogo lida com o humano de forma bastante complexa. Sua prática lida com um ser que não é só braço, perna ou cabeça, mas mente e corpo (como se costuma dizer). Ele estuda o comportamento humano, assim como os processos psíquicos. Apesar de as pessoas geralmente pensarem no psicólogo em companhia de um divã, dentro de um consultório, este profissional pode atuar em diversas áreas, como por exemplo, Psicologia Educacional, Psicologia Jurídica e Psicologia do Esporte, entre outras.

As pessoas procuram psicólogos por diversos motivos. Alguns pais levam seus filhos aos psicólogos por orientação da escola, outros porque não sabem como lidar com suas crianças. Existem pessoas que vão ao psicólogo em busca de orientação profissional, alguns casais buscam fazer terapia de casal, existem aqueles que sofrem de algum problema como a Depressão, outros buscam apenas um aconselhamento. Enfim… há uma série de razões pelas quais as pessoas vão ao psicólogo, e dizer que alguém que vai ao psicólogo é doido reflete nada mais nada menos que uma falta tremenda de conhecimento acerca desta profissão.

Particularmente, considero a profissão de psicólogo uma das mais belas profissões. Em nosso juramento, nos comprometemos a colocar nossa profissão a serviço da sociedade, a pautar nosso trabalho nos princípios do rigor ético e a trabalhar em prol da promoção de saúde e qualidade de vida de cada sujeito e das instituições. Somos regidos por um Conselho Federal de Psicologia (CFP) e por Conselhos Regionais (CRP). Entendemos que a psicologia é uma ciência, e assim sendo, devemos contribuir para o desenvolvimento da mesma.

Isso tudo não torna os psicólogos seres mais especiais ou nobres que os demais. Simplesmente torna você e eu livres para utilizar os serviços desses profissionais, sem o risco de sermos tidos como doidos!

Escrito por Karyne Lira


Nota: Texto transcrito do blog: http://ismaelpsicol.blogspot.com.br/ 


sexta-feira, 7 de março de 2014

SERIE CRONICAS PRIMOROSAS - nº 02

SINAIS DOS TEMPOS

Por ARNALDO JABOR

Tem uma pedra no meio do caminho... Essa pedrinha na praia de Marrocos é o pretexto para a explosão, conflitos antigos... Já existe tensão em Ceuta, uma cidade de 70 mil habitantes na costa de Marrocos, há uma briguinha em torno de Melila, também na costa. Essa guerra da pedrinha é a caricatura perfeita desse falso mundo global, onde árabes e judeus lutam por pedaços de deserto, onde Índia e Paquistão vivem rosnando, depois do Kuwait, Bósnia etc. Será que a Espanha está com medo de outra invasão dos mouros? Será que é influência do atual preconceito contra árabes na síndrome internacional de Bush? Ou será que o desejo de guerra é anterior aos motivos? Eu acho que a causa só se explica pela frase de Nélson Rodrigues: “só há duas coisas infinitas: o Universo e a estupidez humana, e mesmo assim tenho minhas dúvidas sobre o Universo.” 

quinta-feira, 6 de março de 2014

SÉRIE CRÔNICAS PRIMOROSAS - Nº 01

O VESTIBULAR DA VIDA.


Por AFFONSO ROMANO DE SANT'ANNA.


Um enduro sem moto, um rali sem carro, uma maratona onde, ao invés de atletas, correm paraplégicos, cegos, presidiários, grávidas e doentes em suas macas, esta é a imagem que nos deixa este vestibular realizado esta semana, mobilizando centenas de milhares de jovens em todo o país. 
Várias fotos mostram jovens correndo desabalados dentro de seus jeans justos e camisetas palavrosas em direção ao portão da universidade, como se fossem dar um salto tríplice. 
Como se fossem dar um salto sem vara. 
Como se fossem dar um salto na vida. 
Ao lado, aparecem parentes incentivando o corredor-saltador, aparecem colegas gritando em torcida. Correi, jovens, correi, que estreita é a porta que vos conduzirá à salvação! E ali está, como São Pedro, um porteiro ou guarda, que vai bater a porta na cara do retardatário, que chorará, implorará, arrancará os cabelos num ranger de dentes, enquanto, saltitantes, os mais espertos pulam (ocultamente) um muro e penetram o paraíso (ou inferno da múltipla escolha). A Telerj declarou que teve que acordar mais de 10 mil jovens pelo despertador telefônico. Carlinhos Gordo, o maior ladrão de carros do país, estava entre os 39 presidiários que, no Rio, fizeram, mesmo na cadeia, o exame. 
Mais de trinta deficientes visuais tiveram que tatear as 51 folhas em braile. 
Maria Alice Nunes teve um filho e saiu da maternidade com o recém-nascido no colo para enfrentar o unificado. 
Um índio cego — o guarani José Oado, 24 anos — disputa uma vaga em História (ou na história?). 
Andréa Paula Machado, 17 anos, teve que interromper o exame escrito várias vezes, para o prazer oral do bebê que, entre uma mamada e outra, voltava ao colo da avó. 
Dois fiscais que transportavam as provas no caminho de Petrópolis morreram num acidente. Um estudante com rubéola fez, num posto médico, prova ao lado de outro com catapora. Todas as idades ali estavam representadas: Márcia Cristina da Silva, 13 anos, vejam só!, já começou a treinar para o vestibular de Medicina em 88, e neste só achou difícil a prova de literatura. Mas lá estava também Edgar Carvalho, 73 anos, advogado, trocando as delícias da aposentadoria pela idéia de se tornar médico e ainda ser útil aos outros. Por isto, discordo da jovem que o interpelou acusando-o de estar tirando a vaga de outro. Socialmente é melhor um velho de 73 anos que qualquer dos jovens que faltaram à prova porque dormiam, que não foram classificados porque achavam que vestibular era loto e vivem a ociosidade daninha à custa de seus pais. 
Mas, de todos os casos, impressiona mais o de Maria Regina Gonçalves, uma enfermeira de 38 anos. Vejam que estória mirabolante. Lá vai a nossa Maria Regina. Mas não vai simples­mente. Vai grávida. Vai grávida, mas não é uma grávida amparada pelo seu marido, mas uma grávida solteira, enfrentando o mundo com sua barriga e coragem. No entanto, hora e meia antes do exame, em São Cristóvão, é assaltada por três marmanjos covardes, que tomam dela os documentos, 200 mil cruzeiros, e o pior: lhe dão uma porção de safanões, num exercício de sadismo matinal. 
Maria Regina poderia depois disto voltar chorando para casa e ficar lamuriando o resto da vida. Fez o contrário: foi em frente, embora, ao chegar no local, soubesse que uma outra colega, também assaltada, desistira do exame. Maria Regina deu um jeito, arranjou até cópia xerox de sua carteira de identidade, fez a prova, comprometendo-se a mostrar os outros documentos mais tarde. Mas, de noite, teve uma hemorragia. Pena que os ladrões não pudessem ver a cena, pois ficariam mais felizes. O médico lhe ordena "repouso absoluto". Ela ali "repousando", mas agoniada, porque a burocracia lhe exigia comprovações de documentos para validar os exames. Como desgraça pouca é bobagem, quatro dias depois morre o pai de seu namorado, daí a uns dias ela aborta e teve que ficar mesmo internada. E vede agora, ó filhinhos e filhinhas do papai, que esbanjais vossos corpinhos sem destino nas praias da irresponsabilidade! Maria Regina foi a primeira colocada (nota 96) no concurso para Enfermagem e Sanitarismo. 
Tirou primeiro lugar e seu nome não apareceu na lista. Ainda vai ter que provar que existe. Mas já impetrou mandado de segurança. É claro que vai ganhar.


Fonte: Texto transcrito do site:
Foto colhida no Google.



quarta-feira, 5 de março de 2014

A.J. CARDIAIS - ANOTAÇÕES LABORATORIAIS

Fortaleza - Ceará






















ANOTAÇÕES LABORATORIAIS

A.J. Cardiais

O que as cidades falam
ninguém pode ouvir,
mas pode ver, pode sentir
quando passa por suas
ruas mal traçadas
maltratadas
sujas e nuas;

Quando passa por
seus monumentos
maltratados e nojentos
pedindo socorro.

As cidades não falam
mas exalam
odor de sentimento:
na poluição do vento,
na exumação dos gases,
na liberação das fezes.
Catedral - Fortaleza - CE.


As cidades não pensam,
mas fazem suas orações
aos povos sem corações
que levam uma vida tensa.
Assim são as cidades,
assim as Sociedades,
assim a vida.


Nota: Colaboração enviada pelo autor. 
RESPEITE E FAÇA VALER OS DIREITOS AUTORAIS (O MALHO)


segunda-feira, 3 de março de 2014

EDUCAÇÃO















TESE DE ‘VOTOS DE CABRESTO’ NO STF É “INACREDITÁVEL”



























"Quem critica escolha de dois ministros que ajudaram a derrubar crime de quadrilha (Luís Roberto Barroso e Teori Zavascki) deveria lembrar como foi escolha de Joaquim Barbosa", escreve Paulo Moreira Leite; jornalista da IstoÉ lembra que "Lula deixou claro, em 2003, que pretendia quebrar um parâmetro no STF e decidiu escolher um jurista negro para ocupar uma das vagas em aberto"

2 DE MARÇO DE 2014 

247 - Contra a crítica de que os ministros Luís Roberto Barroso e Teori Zavascki teriam sido indicados pela presidente Dilma Rousseff ao STF com o fim de mudar o resultado do julgamento da Ação Penal 470, o jornalista Paulo Moreira Leite lembra, em artigo, como foi a indicação do próprio presidente da Corte, Joaquim Barbosa, autor da acusação. "Lula deixou claro, em 2003, que pretendia quebrar um parâmetro no STF e decidiu escolher um jurista negro para ocupar uma das vagas em aberto (...) Fez duas entrevistas, gostou dos nomes, mas os dois candidatos possuíam impedimentos maiores. O governo até pensou em desistir por um momento mas já era tarde", escreve o colunista da revista IstoÉ.

Leia abaixo a íntegra de seu artigo:

A LENDA DOS DOIS MINISTROS
Quem critica escolha de dois ministros que ajudaram a derrubar crime de quadrilha deveria lembrar como foi escolha de Joaquim Barbosa

Em tom de acusação mal disfarçada, comentaristas de veículos conservadores tem divulgado a versão, lançada por Joaquim Barbosa apos a derrota no julgamento dos embargos sobre formação de quadrilha, de que a mudança deve ser atribuída a dois ministros indicados por Dilma Rousseff para o STF, Luiz Roberto Barroso e Teori Zavaski.

Eu acho inacreditável que se possa sugerir que Barroso e Zavaski entraram no julgamento como votos de cabresto.

Nessa visão, o julgamento da AP 470 foi tão imaculado, tão patriótico, que qualquer dissidência só se explica por motivos baixos.

O fundo desse raciocínio é esconder a decepção profunda de quem esperava que o debate sobre embargos fosse uma simulação, um joguinho de aparências para livrar a cara do STF depois que vários aspectos condenáveis do julgamento – como a ausência de um segundo grau de jurisdição -- começaram a causar constrangimento entre juristas respeitados, dentro e fora do país.

Por fim, vamos começar lembrando o seguinte. Qualquer que seja sua opinião sobre a qualidade dos dois novos ministros, sua isenção, sua competência, será difícil negar que, em qualquer caso, a escolha dos dois obedeceu a critérios mais adequados e consistentes, do ponto de vista da Justiça e do Direito, do que os métodos empregos em 2003, quando Luiz Inácio Lula da Silva escolheu Joaquim Barbosa para integrar o STF. Por exemplo.

Tanto para indicar Zavaski como para apontar Barroso a presidente deixou de lado questionáveis critérios extrajurídicos que tiveram peso na escolha de Joaquim. Lula deixou claro, em 2003, que pretendia quebrar um parâmetro no STF e decidiu escolher um jurista negro para ocupar uma das vagas em aberto. A partir daí, em várias consultas, o ministro da Justiça Marcio Thomaz Bastos começou conversar com possíveis candidatos. Fez duas entrevistas, gostou dos nomes, mas os dois candidatos possuíam impedimentos maiores. O governo até pensou em desistir por um momento mas já era tarde.

A notícia de que Lula pretendia indicar um negro para o STF fora divulgada pela coluna de Monica Bergamo, na Folha, colocando os movimentos de luta contra o racismo de pé, cobrando a nomeação. Foi assim que surgiu o nome de Joaquim Barbosa, que havia se apresentado a um velho amigo de Lula, Frei Betto, numa sala de espera da Varig. A candidatura teve um apoio social importante, muito além de lideranças do movimento negro. Então um sindicalista de prestígio no governo Lula, o próprio Henrique Pizzolato – hoje preso na Itália – foi acionado para ajudar na escolha de Joaquim e defendeu seu nome junto a Gilberto Carvalho.

Cabe fazer outras considerações em torno das insinuações baixas sobre Barroso e Barbosa.

Seria uma observação razoável se Luiz Fux, o ministro que comparou o PT ao bando de Lampião, não tivesse sido nomeado, ele também, por Dilma.

Sublinhando dois votos novos, como se fossem inaceitávais, sem fundamemento jurídico, estamos falando de uma contabilidade conveniente, onde números aparecem quando interessa e desaparecem quando convém.

Com ela, pretende-se esconder vários fatos jurídicos e políticos relevantes.

O primeiro é a fragilidade da denúncia sobre o crime de quadrilha do ponto de vista de vários juristas respeitáveis.

Eles consideram difícil imaginar que José Dirceu, José Genoíno, Delúbio Soares e tantos outros condenados tenham se associado para cometer crimes – e não para fazer política.

Você pode até afirmar que cometeram atos ilícitos. Pode apontar desvios.

Mas para acreditar que trocaram a luta política para se transformar numa espécie de criminosos de colarinho branco é preciso encontra provas e fatos mais consistentes do que a teoria do domínio do fato.

Uma quadrilha é formada por pessoas que cometem crimes com a finalidade de cometer mais crimes.

Não se iludam.

Se a denúncia de formação de quadrilha fosse mais do que a literatura agressiva, bem arquitetada mas oca que se ouve no STF desde 2006, o placar teria sido outro. É isso que se quer esconder no debate para fingir que tudo pode ser resumido a uma troca de favores.

Um dado essencial na decsäo é a perda de autoridade de Joaquim Barbosa entre colegas. Acompanhada de um comportamento interno, autoritário, parcial e grosseiro, a movimentação política-eleitoral de Joaquim diminui sua credibilidade como presidente do STF.

Vários ministros se perguntam o que ele faz por convicção jurídica, o que faz por interesse político. E muitos se perguntam o que fará com eles próprios – diante das câmaras de TV -- caso sintam necessidade de divergir do presidente.

O que se viu no debate sobre formação de quadrilha é que o plenário começou a reagir a Joaquim.

Quando ficou claro que o presidente pretendia encerrar a sessão de qualquer maneira, na quarta-feira, o que deixaria Barroso solitário em seu voto contra o crime de quadrilha, ocorreu uma cena outrora impensável. Joaquim foi interrompido por Carmen Lúcia, que pediu que os demais ministros antecipassem seus votos, mostrando quem é que estava em minoria.

O dia terminou em 4 a 1 contra Joaquim, impedindo que se repetisse, desta vez, o circo dos meios de comunicação para socorrer o presidente do STF, como se fez contra Celso de Mello no debate sobre os embargos.

O discurso de Joaquim, após a derrota, foi ouvido em silêncio por um plenário que já não lhe dá muita atenção. Foi um pronunciamento agressivo, impróprio e inócuo. Ofendeu Dilma. O presidente do tribunal disse que fazia um alerta a Nação, o que é absolutamente inapropriado para um juiz e sempre serve como advertência quando colocada na boca de um candidato.

Falar à Nação? Ame-o Ou Deixe-o? Salvador da Pátria?

Isso é coisa para um juiz?

A tentativa de denunciar – o que é verdade -- que os ricos tem tratamento preferencial na Justiça enquanto pobres são condenados com muito mais frequência ficou prejudicada pelo currículo de seus companheiros de voto. Você pode gostar ou não de quem se aliou a Joaquim. Pode reconhecer méritos e conhecimentos jurídicos em sua história. Ou pode identificar, ali, casos de desprezível oportunismo. Mas foi com essas pessoas que ele tentou impedir, de qualquer maneira, que o STF corrigisse um erro de oito anos.

Um dos ministros absolveu Fernando Collor. Outro deu habeas corpus para o banqueiro Salvatore Cacciola. Um terceiro abriu a porta da prisão, duas vezes, para o banqueiro Daniel Dantas. O quarto foi atrás de ricos, pobres e até acusados da Ação Penal 470 para conseguir apoio para vestir a toga do STF.

O terceiro fato relevante da decisão envolve, sim, os dois novos juízes. Luiz Roberto Barroso e Teori Zavaski demonstraram, no julgamento, uma cultura jurídica consistente, de quem tem argumentos próprios para tomar decisões e não se deixa intimidar. Se a experiência ensina que até os melhores juízes são miseravelmente humanos, e nenhum deles está inteiramente vacinado contra pressões e valores de sua época, os dois demonstraram ali, quando era previsível que receberiam as críticas feitas agora, que seu conhecimento e suas convicções teriam mais importância na tomada de decisões do que outros fatores.

Assumiram posturas coerentes com aquilo que sempre disseram em outras ocasiões. Sempre foram elogiados por seus argumentos. O simples fato de votarem contra um capítulo do "maior julgamento da história" deve coloca-los sob suspeita?

Com o aposentadoria antecipada de Joaquim Barbosa, que confirmou a saída em breve até para Dilma Rousseff, o STF entrará em nova fase. Novo presidente, Ricardo Lewandovski sai da AP 470 maior do que entrou. Mostrou personalidade para manter suas convicções ainda que o comportamento intolerante de Joaquim em plenário tenha servido de estímulo a reações selvagens quando andava na rua.

Também teve capacidade para apontar pontos fracos em vários momentos do julgamento.

Lewandovski se manifestou a favor do desmembramento, em agosto de 2012, abrindo um debate necessário que se prolonga até hoje, quando o STF terá de julgar a renuncia de Eduardo Azeredo.

Lewandovski ainda registrou o agravamento artificial das penas pelo crime de quadrilha, num levantamento que seria empregado por Barroso e Zavaski na quinta-feira.

Se, em setembro passado, foi Celso de Mello quem deu o voto decisivo que permitiu aos réus apresentarem seus embargos infringentes, única chance de uma revisão do julgamento, limitada e especialíssima, Lewandovski ajudou a cimentar a base de ministros que formou a maioria daquela vez.

Embora tenha sido derrotado na maioria das votações da ação penal 470, assumiu a postura respeitosa que se revelou vitoriosa no fim. Podia perder no voto mas ganhava na atitude.

Como revisor, ele foi tratado como um inimigo -- sim, inimigo -- pelo relator e depois presidente da corte, que poucas vezes agiu com a isenção que se espera de um juiz. Quase sempre em minoria, Lewandovski foi um dos arquitetos do ambiente de tolerância e abertura à divergência, que levou aderrota do crime de quadrilha e permite aguardar por um debate maduro sobre os embargos que envolvem o crime de lavagem de dinheiro.





Fonte: http://ajusticeiradeesquerda.blogspot.com.br/2014/03/pml-tese-de-votos-de-cabresto-no-stf-e.html

HOMENAGEM A GULLAR